sábado, 20 de novembro de 2010

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Mundo virtual, arte real?

Uma das telas que serviram de conceito na criação da franquia Assassin's Creed; material está exposto em Paris

Afinal, video game é ou não é arte? Cá entre nós, a grande maioria dos fãs de games talvez não estejam nem aí pra essa discussão que tanto interessa aos teóricos e estudiosos da arte... Mas são cada vez maiores os sinais de que, assim como já aconteceu com os quadrinhos e o graffiti, em breve esta pergunta poderá não fazer mais sentido também para os games.
As fronteiras da arte estão sempre em questão e os diálogos entre a chamada "arte culta" e as manifestações da cultura de massas são um capítulo a parte nessa história que, ao menos desde o surgimento da Pop Art nos EUA da década de 1960, já rendeu muita coisa boa. Desde então, muita água já correu por baixo dessa ponte - e continua correndo... Hoje em dia já existem até mesmo galerias de arte especializadas em expor trabalhos de artistas que criam peças com histórias em quadrinhos, filmes, cinema, mangá e videogames. É o caso da galeria parisiense Arludik, que define sua linha curatorial como "arte contemporânea para o entretenimento".
Como informa o jornal Folha de S. Paulo, em cartaz atualmente na Arludik está uma exposição que mostra "telas conceituais criadas por um time de artistas na pré-produção dos jogos Assassin's Creed, Assassin's Creed 2 e Assassin's Creed Brotherhood" - este último será lançado somente no mês que vem. As 35 pinturas em exposição foram feitas na fase de pré-produção do jogo e serviram de referência para a realização da versão digital. Portanto, jamais seriam vistas pelo público se não estivessem expostas em uma galeria.
Mas fica a dúvida: se o diferencial de um game é a interatividade, faz sentido expor essas telas preparatórias de formato "tradicional", como qualquer outra pintura? Uma das justificativas poderia ser a possibilidade da imagem parada proporcionar um maior tempo de observação da qualidade técnica e riqueza de detalhes dos originais. E isto é mais verdadeiro ainda quando se trata de um game "hiperrealista" que tem como cenários cidades muito importantes arquitetonicamente como Roma e Florença - material visual riquíssimo, que abre possibilidades para aulas de história da arte totalmente interativas!

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Galeria Arludik
matéria Folha de S. Paulo

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Mundano: graffiti papo reto

Graffiti da série São Paulo 100 Carroças
foto publicada n'O Estado de S. Paulo, 03/10/2010

Originário das ruas e tendo alcançado o status de arte, sendo exposto em galerias, integrando o acervo de museus e já totalmente assimilado pelo mercado, o graffiti deixou de ser apenas uma técnica e já pode ser compreendido como uma linguagem capaz de manifestar ações e propostas extremamente variadas. Pode-se dizer que, hoje em dia, o graffiti é uma das inúmeras linguagens contemporâneas que qualquer artista pode usar para "dar o seu recado" de modo pessoal segundo o proprio estilo e, principalmente, as intenções de cada um.
No caso do Mundano, o graffiti assume radicalmente suas raízes: social e participativo, seu trabalho se pauta pela ação política - no sentido amplo da palavra. Estas qualidades se apresentam com mais intensidade na série São Paulo 100 carroças, seus graffitis se apresentando como intervenções diretas na paisagem e na vida da cidade, claramente com o objetivo de questionar nossa habitual alienação com relação a temas que o artista julga importantes. Nas palavras do próprio artista:

"Meu objetivo é que os "carroceiros" (catadores de papel) sejam olhados pela sociedade como profissionais da reciclagem e sejam respeitados pelo árduo trabalho, porque eu vejo muito engravatado olhando torto e socando a buzina pra eles saírem da frente e chamando eles de vagabundos, quando eles estão reciclando o lixo que eles mesmos nem produzem."

Outra característica interessante a destacar nesta série de graffitis é a centralidade e a força da palavra, que carrega a essência da mensagem. Concisas e diretas - condição essencial para sua legibilidade em meio à profusão de informações e à velocidade com que circulamos pela cidade -,as frases criadas pelo artista cumprem integralmente seu objetivo de impactar quem quer que as leia.
A seguir, reproduzo algumas fotos dos graffitis da série, que pode ser acessada na íntegra pelo link disponibilizado pelo próprio Mundano no Flickr:



Uma última palavrinha: agradeço, mais uma vez, a amiga Clarice Villac, que me apresentou o trabalho do Mundano. Valeu, Clarice!

Afetos & repercussões


haiga da poetamiga Clarice Villac sobre foto dos graffitis 
da Turma 1903 da E.M. Affonso Penna


É muito bom saber que um trabalho que se fez com prazer foi capaz de afetar outras pessoas, não é mesmo? Principalmente quando essa pessoa é muito especial, uma poeta de fina sensibilidade! E que, se não bastasse essa qualidade, também é professora e trabalha numa escola como a nossa... Pois é, essa pessoa é a poeta e amiga paulistana, residente na cidade de Campinas, Clarice Villac [http://claricevillac.blogspot.com/]. Clarice leu aqui no blog a postagem sobre o Projeto Graffiti e compôs este haiga sobre a foto da Turma 1903 tendo ao fundo seus trabalhos.
O haiga é um gênero artístico ligado à tradição da poética clássica japonesa e consiste num pequeno poema de três sílabas - um hai kai - que dialoga com uma imagem. Originalmente, esta imagem consistia num desenho ou pintura mas, atualmente, também se fazem haigas a partir de fotografias, como fez e nos ofertou afetuosamente a Clarice.
Compartilho este presente com todos vocês!
Grato, Clarice!

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+ sobre hai kai, um site:
+ sobre haiga, um blog:

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Sketchbook, o que é isso?


Sketchbook do grafiteiro Binho, mostrando alguns dos desenhos preparatórios 
para o graffiti que realizou na E.M. Affonso Penna em parceria com o Leleco

Alguns dos alunos que participaram do Projeto Graffiti [ver postagem abaixo] perceberam que o Leleco e o Binho levaram vários "caderninhos" para a escola e foram bisbilhotar pra ver o que continham... Pois é, esses "caderninhos" são chamados de sketchbooks: cadernos de esboços ou rascunhos. É nesses cadernos que o artista "pensa visualmente", registra coisas interessantes que vê, rabisca rapidamente uma cena ou situação, explora as possibilidades de um desenho etc. Pode-se dizer que um sketchbook é um diário desenhado e, nesse sentido, ao folhear um sketchbook nós podemos ter uma noção do universo de interesses e do processo criativo de um artista, seu estilo de desenhar, os materiais que prefere utilizar no seu trabalho - ou seja, ficamos conhecendo o artista e seu trabalho mais profundamente.
Leonardo Da Vinci

Os sketchbooks são usados não apenas por grafiteiros mas por quase todo tipo de artista, e não é de agora: Leonardo Da Vinci [1452-1519], por exemplo, já fazia uso de cadernos de esboços [ilustração à esquerda], assim como Pablo Picasso [1881-1973] que, antes de pintar Guernica usou vários cadernos para esboçar cada um dos detalhes da obra antes de partir para a tela [ilustração abaixo, à direita].
Pablo Picasso
Os sketchbooks se tornaram, assim, documentos importantes para conhecermos melhor os artistas e passaram a ser publicados na forma de livros no exterior e, agora, no Brasil. É o que informa a matéria Livro traz esboços feitos por artistas brasileiros  publicada recentemente pelo jornal Folha de S. Paulo.
Titi Freak
Organizado por Cezar  de Almeida e Roger Basseto e publicado pela editora POP, o livro se chama Sketchbooks - As Páginas Desconhecidas do Processo Criativo. O preço não é lá muito acessível [R$ 120,00] mas são 272 páginas contendo imagens e depoimentos de 26 artistas de vários gêneros: artistas plásticos, quadrinistas, ilustradores e grafiteiros  como Titi Freak [ilustração acima, à esquerda], entre muitos outros. A boa notícia: 30 imagens do livro podem ser acessadas gratuitamente acessando o link: 


Vale a pena dar uma boa bisbilhotada nos desenhos desses artistas... E, quem sabe, alguém se anima a iniciar seu próprio sketchbook?

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Projeto Graffiti na E.M. Affonso Penna

Os alunos participantes do projeto diante de seus graffitis
Desenhos preparatórios 
O Projeto Graffiti é desenvolvido por mim desde o ano passado na E.M. Affonso Penna, com as turmas do 8.o e 9.o anos. Este ano, iniciei o projeto com a Turma 1903 no segundo bimestre, tendo como proposta pensar o graffiti em suas continuidades e rupturas relativamente à história da pintura mural e integrado ao panorama da arte pública, compreendendo-o dentro da categoria intervenção e como pintura mural urbana e contemporânea. Durante estes dois bimestres, muito assunto para conversa: as relações entre obra e espaço e as possibilidades do graffiti como intervenção urbana, as diferenças entre graffiti e pichação, o surgimento do grafitti como expressão cultural de minorias e seu recentemente adquirido estatuto de "arte", seu potencial de expressão individual e/ou coletivo na atualidade etc.
Um dos stencils pronto
Neste sentido, ao longo do processo os alunos leram textos teóricos sobre o assunto, matérias de jornais [1] e entrevistas de grafiteiros e conheceram movimentos artísticos como o muralismo mexicano, trabalhos de artistas modernos brasileiros que realizaram murais e painéis além, é claro, de verem muitas imagens e vídeos de trabalhos de grafiteiros brasileiros e estrangeiros desde os primórdios do grafitti até os dias de hoje, entre os quais Alex Vallauri, OsGêmeos, Keith Haring, Jean-Michel Basquiat, Bansky...
Grafitando
Este ano o projeto teve uma novidade e uma surpresa: a novidade foi ter obtido a autorização da direção da escola para que os alunos, ao final do processo, pudessem grafitar um dos muros da escola. Como não tenho experiência prática como grafiteiro, optei por trabalhar com o alunos a técnica dos stencil, na qual a imagem é grafitada com o spray usando-se um molde vazado [técnica usada por vários artistas do graffiti, como o brasileiro Alex Vallaury e o inglês Bansky]; a surpresa, uma feliz coincidência: quando já estávamos com quase tudo pronto para a culminância do projeto, ficamos sabendo que o SESC Tijuca realizaria um dia de atividades na escola, quando seriam oferecidas uma série de oficinas e atividades, entre
O stencil após o uso
as quais uma "grafitagem-aula" pelos grafiteiros Leleco e Binho. Isso foi fundamental para a ampliação da consistência do projeto para os alunos, pois eles puderam ter as duas experiências: finalizar o processo conduzido em sala de aula e compartilhar o processo de trabalho de dois garfiteiros conhecidos na realização de um graffiti, desde seu início - preparação do muro - até o final. A proximidade com os grafiteiros foi de suma importância para a culminância do projeto, pois os alunos não só puderam apreender in loco detalhes de técnicas e procedimentos, apre[e]ndendo pela observação, como puderam se valer da assessoria e das dicas de um dos grafiteiros - Leleco, que também é professor - na realização do trabalho.
Nas imagens abaixo, detalhes dos graffitis realizados pelos alunos; na sequência, uma panorâmica do pátio da escola no dia seguinte ao evento e, finalizando, Leleco, eu, Binho e o aluno Douglas diante do painel finalizado pelos grafiteiros.







NOTAS:

[1] Relação das reportagens de jornais disponiblizadas aos alunos durante o projeto:

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100302/not_imp518093,0.php

http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,grafite-muda-de-nome-e-vira-nova-arte-publica,345880,0.htm

http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,asfalto-do-minhocao-ganha-flores-no-fim-de-semana,446307,0.htm